Os mais novos acharão estranho, mas se porventura transpusermos o modelo de ensino da Telescola para a atualidade, rapidamente surgirão paralelismos mentais com os modelos de e-learning ou b-learning, usados atualmente por várias instituições.

Numa altura em que o Moodle ainda não existia e a Internet estava muito longe de se massificar, Portugal avançou com uma iniciativa arrojada, que acabou por ter um grande impacto junto de várias gerações. Estávamos, então, no ano de 1965, altura em que as portas da sala de aula se abriram, pela primeira vez, no ecrã de um televisor.

Produzida a partir do Monte da Virgem, no Porto, a Telescola era um programa emitido regularmente pela Radiotelevisão Portuguesa (atual RTP). O principal objetivo era combater o abandono escolar, dando aos alunos que viviam em zonas rurais ou em periferias com escolas sobre-lotadas a possibilidade de aprenderem à distância. A maior parte do ensino era via televisão, mas professores e alunos encontravam-se na altura de fazer testes e exames.

No vídeo abaixo, vemos uma campanha promocional das emissões que viriam a começar em outubro de 1965.

Na época em que o projeto arrancou – ainda em período de Estado Novo – a escolaridade obrigatória fixava-se no 6.º ano de escolaridade. Com a chegada dos anos 70 e a reforma do ensino, esse período foi alargado para oito anos. Embora o ensino presencial continuasse a ser o meio predileto, ensinar à distância era uma alternativa nos casos em que tal continuava a ser impossível.

Telescola e as pequenas, grandes mudanças dos anos 90

Com os anos 80 e uma série de modernidades tecnológicas a chegar a Portugal, a televisão ganhou cor e continuou a ter destaque, mas as emissões da Telescola deixaram de ser emitidas em direto. Em vez disso, eram gravadas e distribuídas em videocassetes.

A mudança não só fez com que ocorresse uma mudança nos hábitos estudantis, como libertou espaço na grelha televisiva para outros programas. Quando a programação assim o exigia, as aulas eram substituídas por outros  programas, como era o caso do Festival Eurovisão da Canção. Este foi, todavia, o período áureo da Telescola, com uma rede de alunos que, a certo ponto, chegou a ultrapassar os 60 mil estudantes.

A chegada da década de 90 trouxe novas alterações. Foi nesta altura que se criou uma espécie de “b-learning televisivo”: juntamente com as aulas presenciais, alguns alunos eram educados por um professor que os ensinava pelo ecrã – uma espécie de ensino complementar.

Foi  também nesta década que o modelo de ensino começou a ser visto como uma alternativa para aqueles que tinham deixado a escola e queriam regressar, ou para aqueles que já não se encontravam dentro da idade escolar normal.

Um fim que não é assim tão longínquo

Muitos dos jovens que fazem agora 18 anos não sabem, mas a verdade é que também eles são do tempo da Telescola.

Ao longo das várias décadas, a iniciativa foi mudando diversas vezes de nome: chamou-se Curso Unificado Telescola, Ciclo Preparatório TV e Ensino Básico Mediatizado. Foi com esta última designação que o projeto viu o seu fim. O anúncio foi feito no mês de julho de 2003, numa altura em que ainda havia cerca de 5 mil alunos veiculados a este sistema de ensino.

O argumento por detrás da decisão era o de que há muito deixara de fazer sentido isolar as crianças em frente a um ecrã. Já na data, vários especialistas afirmavam que, numa idade tão jovem, as crianças necessitavam do contacto diário com crianças da sua idade para poderem desenvolver competências sociais.

O anúncio do fim trouxe algum descontentamento, nomeadamente por parte das associações de pais.

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